Um Violino para a Lua Cheia.

16/07/2012 13:51

    Desire encostou a cabeça na parede da sala de aula, o sinal não significava somente o fim de uma tarde de aula, e sim um longo e entediante fim de semana que passaria no internato.

    No caminho para o dormitório, imaginava como passaria esses dois dias, sem suas amigas por perto. Tinha que se despedir de Laura antes de qualquer coisa, pois ficaria longe da sua melhor amiga por algum tempo, já que ela estava indo para a Romênia ver a família, e, bem quanto a ela, sua única opção quando se tratava de família seria ir ajudar no teatro, o que para ela era somente perda de tempo, como os bailes e as festas chatas as quais era arrastada por Moriggan sempre que o avião pousava em Paris.
    Quando Laura chegou pelas suas costas e se sentou na carteira ao lado:
    -Desy, já tenho que ir, o motorista esta me esperando, vou sentir saudade.
    As duas trocaram um abraço apertado. E enquanto Laura seguia pelo corredor escuro, ajeitando a maria-chiquinha, Desire rumou para os fundos da escola, havia algo que precisava fazer, mais especificamente, alguém que precisava ver, levou seu violino, e, quando já estava suficientemente longe da sala de ciência maluca, que ficava com a janela virada para o pátio onde estava, passou a tocar uma melodia triste, que havia aprendido anos atrás, quando a noticia de que teria que ser criada por um parente distante em Nova Orleans ainda a perturbava.
Passou a fazer uma serenata a ela... A lua.
    Era com certeza uma impressão bizarra, a transmitida por aquela cena... Por um momento, não se sentiu mais mal por estar sozinha ali, a música que saia de seu violino parecia lavar todas as suas angustias e dores. Esqueceu-se do mundo, e entregou-se por completo a louca segurança que a musica lhe trazia, nunca havia tido aquela sensação.
    Quando de repente percebeu que estava sendo observada.
    Nicolas de Lenfent, seu professor de línguas mortas estava sentado em uma mesa no pátio. Ele sentia nela algo familiar, que lembrava-lhe alguém que não via a muito tempo, um tempo que já estava sendo carregado por séculos. Recordava-o de memórias que foram levadas brutalmente pela brisa fresca de Auvergne no sec. XVII, de dois jovens tocando e dançando feito loucos em uma clareira, uma clareira assombrada... O lugar das bruxas.
    A garota correu com seu All Star surrado pela grama pegou sua mochila preta, cheia de chaveiros, ela parecia muito mais leve... Os sonhos quebrados que sua ela carregava antes haviam ido embora.
    Depois de pegar a mochila, ela correu, e mais e mais, pelos corredores da escola, e a sensação era ótima, a brisa batendo em seus cabelos despenteados, a camisetas das Fearleaders que ela havia combinado com uma calça jeans rasgada estava sendo colada em seu corpo pelo vento... Ela pendeu a cabeça para trás e soltou uma risada alta e sonora, enquanto desaparecia pelos corredores escuros da escola.
    Nicolas permaneceu ali, parado, contemplando a cena, como se nada pudesse acabar com suas lembranças, seus lábios puxaram um sorriso contra a sua vontade, o que para um imortal é uma coisa rara. Ele conhecia aquela risada, e era ótimo ouvi-la saindo dos lábios de alguém tão jovem... Como era bela aquela geração, o simples fato de conseguirem separar luz de trevas, e escolherem cada qual o seu caminho, independente da opinião dos outros ao seu redor.
    Era esse o verdadeiro principio da rebeldia, que ele e Lestat haviam conhecido tão bem. Ah, os rebeldes! Os loucos de palavras, os ricos de espírito, os impossíveis, os que fazem a diferença aqueles que queimam, e ardem como velas acesas na escuridão.

“Porque só os impossíveis podem fazer o impossível”. -Nicolas de Lenfent.

 

Escrito por: Marine de Paulo.

Imagem: Victoria Frances.